Zezé Di Camargo ataca presença de Lula no SBT, mas é exposto por contratos milionários com o próprio governo
Cantor criticou a emissora por convidar o presidente para evento institucional, pediu veto a especial de Natal, mas foi desmentido após vir à tona contrato de shows pagos com verba federal

O cantor Zezé Di Camargo voltou ao centro do debate político nesta segunda-feira (15) após criticar publicamente o SBT por convidar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a cerimônia de inauguração do novo canal de notícias da emissora, o SBT News. A reação do sertanejo, que declarou apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ganhou contornos de contradição poucas horas depois, quando veio à tona que ele mantém contratos firmados com o próprio governo Lula para apresentações custeadas com recursos públicos.
Incomodado com a presença do chefe do Executivo na programação do canal, Zezé chegou a pedir que um especial de Natal, do qual participou, não fosse exibido pela emissora. A atitude foi interpretada por muitos como uma tentativa de pressionar o SBT por uma decisão editorial legítima e institucional — afinal, Lula foi convidado como presidente da República para um evento de lançamento de um canal jornalístico, não como convidado partidário.

A repercussão negativa nas redes sociais aumentou quando a colunista Amanda Miranda, do site ICL Notícias, apontou a incoerência do discurso do cantor. Segundo a jornalista, a dupla Zezé Di Camargo & Luciano possui contratos assinados para apresentações financiadas com verba federal. Um dos compromissos prevê o pagamento de cerca de R$ 500 mil para um show no interior de Pernambuco, valor bancado pelo Governo Federal.

A revelação expôs um contraste difícil de justificar: enquanto critica publicamente a presença institucional do presidente em um evento de mídia e se coloca como opositor do atual governo, Zezé não demonstra o mesmo rigor ideológico ao aceitar recursos públicos oriundos da mesma gestão que condena em discurso.
SBT reage e defende pluralidade institucional
Diante da polêmica, a presidente do SBT, Daniela Abravanel Beyruti, divulgou uma carta aberta em defesa do lançamento do SBT News e da decisão de convidar representantes dos três Poderes para o evento. Além de Lula, estiveram presentes o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.
No comunicado, Daniela lamentou os ataques sofridos pela emissora e pela família Abravanel antes mesmo da apresentação oficial do projeto. “Isso é exatamente o que queremos combater: a falta de diálogo”, afirmou. Ela também destacou que, nos últimos cinco anos, o jornalismo do SBT foi apontado pelo Instituto Reuters como o de maior confiança e credibilidade entre os brasileiros.
Segundo a executiva, foi esse reconhecimento que motivou a criação de um canal exclusivo de notícias, com a proposta de atuar de forma imparcial e isenta. “Cabe a nós mostrar os fatos e, ao público, julgá-los”, pontuou.
Daniela reforçou ainda que o evento de lançamento refletiu pluralidade e respeito institucional, reunindo representantes do Executivo, Legislativo e Judiciário. Para ela, os julgamentos antecipados demonstram intolerância ao diálogo e desconhecimento da proposta editorial do novo canal.
Contradição exposta
O episódio envolvendo Zezé Di Camargo evidencia um padrão recorrente no debate público brasileiro: a crítica seletiva. Ao mesmo tempo em que condena gestos institucionais e defende posicionamentos políticos, o artista se beneficia financeiramente de contratos firmados com o Estado que governa sob a mesma bandeira que ele ataca.
A incoerência enfraquece o discurso e reforça questionamentos sobre até que ponto a indignação é ideológica ou apenas retórica. No fim, o caso escancara que, para alguns, a política é motivo de protesto apenas quando não interfere no próprio cachê.
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