A travesti Amanda Santos foi condenada a 63 anos e oito meses de prisão por envolvimento na chacina de motoristas por aplicativo no ano de 2019, em Salvador. O júri popular foi comandado pela juíza Andrea Teixeira Lima Sarmento Netto, nesta quarta-feira (19/4), e durou mais de 10 horas.
O julgamento aconteceu no Segundo Salão do Júri do Fórum Ruy Barbosa, na capital baiana. Amanda é a única acusada viva e estava presa desde então.
Amanda foi julgada pelos homicídios de Alisson Silva Damasceno dos Santos, Daniel Santos da Silva, Genivaldo da Silva Félix, Sávio da Silva Dias, e a tentativa de homicídio de um motorista, no dia 13 de dezembro de 2019, por volta das 4h, na localidade conhecida como “Paz e Vida” , na entrada do bairro Santo Inácio.
Amanda é o nome social da acusada. Inicialmente a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) a identificava pelo nome de registro que ainda é utilizado pelo Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA).
O júri começou 8h. A promotora do caso foi Mirella Barros Conceição Brito e a condenada foi defendida pela Defensoria Pública do Estado da Bahia (DPE-BA);
Sete, dos 29 jurados, foram sorteados e participaram do julgamento;
Esposas de três vítimas foram ouvidas pela juíza;
Motorista que sobreviveu e denunciou a chacina também foi ouvido no Fórum;
Depois a juíza chamou Amanda e leu as acusações feitas pelas testemunhas de acusação;
Após ouvir os relatos, a condenada negou todas as acusações, inclusive a de que teria agredido o motorista que sobreviveu.
Amanda disse que tinha uma dívida com Jeferson Palmeira Soares Santos, conhecido como “Jel”: apontado como mandante do crime;
Afirmou também que aceitou se juntar ao grupo, porque acreditava que eles iam “apenas assaltar e não matar” as vítimas;
Disse que chegou a entrar em um carro, com o adolescente, para assaltar o motorista. A vítima teria sido rendida pela dupla, que teria desistido do crime e liberado o homem;
A decisão, de acordo com Amanda, teria provocado a ira do traficante, que brigou com a dupla;
Os dois teriam feito uma nova chamada e assaltado um outro motorista por aplicativo. Após levarem a vítima, que não teve o nome detalhado, para um barraco. A travesti teria visto que outros profissionais da mesma profissão estavam no local, rendidos;
Ela afirmou que deixou o local do assassinato. Disse também que tentou convencer o adolescente, que foi apreendido, a sair de lá, mas ele não quis;
Contou que não atirou nas vítimas e que não sabia que o comparsa adolescente era menor de idade.
Os mortos são:
Sávio da Silva Dias, de 23 anos;
Alisson Silva Damasceno, de 27 anos;
Daniel Santos da Silva, de 31 anos;
Genivaldo da Silva Félix, de 48 anos.
Os envolvidos no crime são:
Jeferson Palmeira Soares Santos, conhecido como “Jel”: apontado como mandante do crime; (encontrado morto dois dias depois do crime)
Antônio Carlos Santos de Carvalho, de 19 anos: apontado por envolvimento; (morreu em confronto com policiais no mesmo dia do crime)
Marcos Moura de Jesus, de 30 anos: apontado por envolvimento; (morreu em confronto com policiais no mesmo dia do crime)
Amanda: apontada por envolvimento.
Crime
No local, foram encontrados os corpos dos quatro motoristas. Eles estavam enrolados em lonas de plástico.
No mesmo bairro, três carros que seriam dos motoristas foram localizados. Outro veículo foi achado no pedágio da cidade de Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador.
Na tarde da sexta-feira, poucas horas após o crime, motoristas de aplicativos fizeram uma carreata pelas ruas de Salvador para pedir mais segurança.
Investigações
Segundo a Secretaria de Segurança Pública da Bahia, Amanda disse à polícia que o objetivo do grupo era roubar os veículos das vítimas. Ela ajudou a acionar as vítimas, através dos aplicativos.
O depoimento dela contrariou a versão divulgada pelo então governador Rui Costa, de que os assassinatos teriam sido ordenados por um traficante, após motoristas por app negarem corrida à mãe dela.
“A hipótese de vingança foi descartada. Eles não queriam matar porque um motorista negou socorro a mãe de um deles. O objetivo era roubar dinheiro e os carros”, explicou o delegado Odair Carneiro, responsável pelo caso, na época.
Único sobrevivente
Em entrevista à TV Bahia, o sobrevivente da chacina contou que não conseguiu dormir após o crime por causa do trauma. Ele também relembrou como foi abordado pelos criminosos, disse que pediu para não ser morto e falou do momento em que foi torturado.
O motorista conseguiu escapar dos criminosos depois que uma das vítimas, outro motorista por aplicativo, lutou com os suspeitos.
O motorista contou que saiu às 5h para abastecer o carro e começou a trabalhar. A primeira corrida foi no bairro de Pau da Lima, também na capital baiana. Em seguida ele foi para o bairro de Santo Inácio, onde foi abordado pelos criminosos.
O homem disse que quando chegou em um barraco, viu uma pessoa deitada, morta e outro rapaz amarrado nos pés e nas mãos. O homem disse que pediu para não morrer, e um dos criminosos perguntou se ele tinha dinheiro. Diante da negativa da vítima, o homem disse: “Então você vai morrer”.
A vítima resolveu perguntar a um homem, chamado de Coroa pelos comparsas, o motivo do crime.
“Irmão, por quê? Eu sempre trabalhei de Uber, não discrimino quem quer que seja. E teve o Coroa que me respondeu: “Mataram toda minha família e eu vou matar vocês. A todo momento eu percebia que eles tinham a intenção só de matar. Porque eles deixavam ver o rosto deles. Diziam: Olhe pra mim. Olhe pra mim, que você vai pro inferno primeiro e depois, num dia, a gente se encontra lá na frente”, contou.
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